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No mesmo dia em que nacionalizou a empresa de eletricidade com capital espanhol TDE (Transportadora de Eletricidade S.A.), gerida pela Rede Elétrica Internacional, filial do Grupo REE (Rede Elétrica da Espanha), o presidente da Bolívia, Evo Morales, fez acordo com a também espanhola Repsol para processar gás boliviano para a Argentina.

A expropriação acontece duas semanas depois que o governo argentino expropriou a YPF da também espanhola Repsol, alegando falta de investimento.

O presidente boliviano emitiu o decreto na parte da manhã em uma cerimônia em La Paz, em seu escritório, para assumir o controle de 100% das ações que a empresa espanhola possuía na TDE.

O presidente boliviano, que já nacionalizou empresas de petróleo, eletricidade e telecomunicações, desde que chegou ao poder em 2006, ordenou a ocupação militar da TDE.

“O presente decreto supremo tem por objetivo nacionalizar a favor da ENDE (Empresa Nacional de Eletrificação), representante do Estado Plurinacional, o pacote acionário em mãos da sociedade Rede Elétrica Internacional na Empresa Transportadora de Eletricidade”, afirmou Morales em um ato público no presidencial Palácio Quemado.

O presidente explicou que a medida é devido ao “baixo investimento” na empresa, privatizada em 1997.

Segundo Morales a REE e sua predecessora, a Unión Fenosa, “em 16 anos investiram apenas US$ 81 milhões na TDE, (…) a uma média de US$ 5 milhões por ano”.

A TDE foi fundada em 1997 e possui 73% das linhas de transmissão, segundo sua página oficial na internet na Bolívia.

Cerca de 99,94% de seu capital estava em mãos da Rede Elétrica Internacional e 0,06% pertencia aos trabalhadores da empresa, de acordo com a página na web da empresa.

Morales disse que reconhecerá os investimentos realizados pela REE em seu país.

“Somos responsáveis com as empresas. Se o que corresponde é devolver, é preciso devolver. Se uma empresa fez investimento, reconhecemos o investimento e sempre vamos reconhecer”, declarou Morales em um ato em Cochabamba perante os trabalhadores da TDE, militares e partidários.

O governo espanhol disse que está “coletando informações” após a decisão do presidente boliviano, mas já adiantou que se trata de um caso diferente da Repsol.

Por sua parte, a REE lamentou a decisão e espera alcançar um acordo com o governo boliviano para uma compensação adequada por esta desapropriação que alivie todos acionistas da empresa, com 20% de capital público e uma maioria de investidores de outros países.

Fontes da companhia disseram à Agência Efe que desde a aquisição em 2002 da TDE, a REE investiu US$ 60 milhões para manter e elevar os padrões de qualidade da rede de alta tensão boliviana.

Após acordo com o governo, o presidente da companhia espanhola Repsol, Antonio Brufau, disse nesta terça-feira que está “satisfeito” por entregar no sul da Bolívia uma fábrica que processará gás boliviano para a Argentina.

Brufau pronunciou um discurso na jazida de gás natural de Campo Margarita na presença de Morales que prometeu à Repsol, que seus investimentos serão respeitados.

“Hoje estamos satisfeitos, chegamos ao primeiro marco do compromisso que assumimos com a Bolívia em novembro do ano 2009 e que ratificamos em março de 2010”, disse o executivo, aludindo aos compromissos da Repsol com Morales para aumentar a produção de gás para os mercados argentino e boliviano.

Brufau não mencionou o conflito da Repsol com a Argentina pela desapropriação da maioria das ações da empresa espanhola na petrolífera YPF.
Fonte: FolhaOnline