O procurador-geral da República, Roberto Gurgel, classificou como “ladainha” o argumento usado por quase todos os advogados dos réus do mensalão de que o Ministério Público não foi capaz de reunir, na denúncia, provas suficientes para comprovar a existência do mensalão no primeiro mandato do ex-presidente Lula.

– O que resta aos advogados dizer? Que não há prova suficiente, que a denúncia é mal elaborada. É a técnica de defesa, é a ladainha esperada das defesas –  disse Gurgel, ao jornal O Globo.

O procurador afirmou que não viu nenhuma novidade na sustentação oral dos advogados dos 38 réus e lembrou que não é preciso comprovar que os pagamentos a partidos aliados se converteram, de fato, em votos a favor do governo. O importante, segundo ele, é comprovar que o pagamento visava a comprar apoio político no Congresso:
– Se isso se operou efetivamente, se aconteceu ou não, é irrelevante para configurar crime. O ato não precisa se consumar.

Gurgel também comentou as estratégias de alguns dos advogados de culpar denunciados que já morreram:

– Quando em algum processo alguém morre, coincidentemente as culpas recaem, são transferidas para quem morreu e não pode se defender.

O procurador comentou a técnica dos advogados de dizer que só houve caixa dois de campanha:

–  Desde o primeiro momento esta foi a tese básica da defesa. Primeiro se afirma que não houve nada, que foi um delírio. Seria o delírio mais bem fundamentado da história. Mas, se houve (crime), se afirma que foi caixa dois. 

Embora não tenha contestado nenhum advogado desde o início do julgamento, Gurgel se queixou do que chamou de “grosserias inaceitáveis” ditas por alguns deles. Ele reclamou especialmente do gaúcho Luiz Francisco Barbosa, o ´Barbosinha´, advogado de Roberto Jefferson, que o chamou de“omisso” por não ter denunciando o ex-presidente Lula.

– Do mesmo modo que os advogados ficaram calados na apresentação das minhas alegações, optei por ficar calado. Os ânimos se exaltam mais no momento da sustentação. Grosserias são sempre inaceitáveis. 

Questionado se se referia a Barbosa, Gurgel assentiu com a cabeça, mas ressaltou que houve outras.

Ele também se queixou da “brincadeira sem graça” de um advogado que o comparou ao apresentador Jô Soares.

– Sempre acho engraçado, mas depois daquela sustentação achei que era uma brincadeira sem graça. 

Ele se referia ao advogado Itapuã Prestes de Messias que, na tribuna, afirmou que seu cliente, o ex-dirigente do PTB, Emerson Palmieri, é denunciante do esquema do mensalão e não deveria figurar entre os réus do processo. Assim como já aconteceu com outros réus, repassou a responsabilidade a uma pessoa já falecida, dessa vez o ex-presidente do partido José Carlos Martinez.

Itapuã concluiu sua sustentação fazendo uma curiosa comparação do procurador-geral da República, Roberto Gurgel, com o apresentador da TV Globo Jô Soares: “os dois têm fisionomias parecidas”.
Fonte: Espacovital