20 de Setembro de 1835 é marcante na história do nosso país e, principalmente, do Rio Grande do Sul, que era conhecido como a província de São Pedro do Rio Grande, no Brasil imperial.

Motivados a rebelar-se contra o modelo de estado empregado na época, líderes dos liberais como Bento Gonçalves da Silva queriam um modelo de economia e política diferentes, com maior autonomia dos estados em relação à república.

Enquanto o principal produto produzido no Brasil era o Café, a província de São Pedro produzia o charque, que era utilizado na alimentação dos escravos cafeicultores de Minas Gerais e São Paulo. O Câmbio e a carga tributária eram totalmente favoráveis à importação destes produtos de países como Uruguai e Argentina, tirando os gaúchos da concorrência por conseguirem, estes países, preços mais baixos para a venda do produto.

Na noite de 18 de setembro de 1835, em reunião onde estavam presentes José Mariano de Mattos, Gomes Jardim, Vicente da Fontoura, Pedro Boticário, Paulino da Fontoura, Antônio de Sousa Neto e Domingos José de Almeida, decidiu-se, por unanimidade, que dali a dois dias, no dia 20 de Setembro, de 1835 tomariam militarmente Porto Alegre e destituiriam o presidente provincial Fernandes Braga.

A Revolução Farroupilha iniciou-se, então, em 20 de Setembro. No dia 25 daquele mês, o chefe militar declarou respeitar o juramento que havia prestado ao código sagrado, ao trono constitucional e à conservação da integridade do império. Em princípio, portanto, o levante não era de caráter separatista mas se dirigia contra o presidente da Província e Comandante das Armas. Mesmo assim, o Império não poderia aceitar a destituição de seus delegados – fosse por golpe ou não. Iniciava-se a luta que se estenderia por dez anos.

“Carga de cavalaria Farroupilha”, de Guilherme Litran

A proclamação da República Farroupilha

Em 10 de Setembro de 1836, as forças de Silva Tavares e do General Neto se encontram em sangrento combate. Inicialmente há uma pequena vantagem para os imperiais, mas um acontecimento muda a sorte da batalha. O cavalo de Silva Tavares, com o freio arrebentado na luta, dispara em velocidade, causando a impressão de fuga, mesmo entre seus comandados. A confusão entre eles é aproveitada pelos cavaleiros de Neto com força redobrada. Os farrapos ficam quase intactos, enquanto do outro lado há 180 mortos, 63 feridos e 100 prisioneiros.

Donos do campo, os farroupilhas comemoram vibrantemente a vitória. Cresce a idéia separatista de conquistar e manter um país rio-grandense independente, entre as nações do mundo. À noite as questões ideológicas são revistas. Lucas de Oliveira, Joaquim Pedro e Teixeira Nunes cercam Neto. Não há outra saída a não ser enveredar pela senda da independência, não há outro desejo popular a não ser o desejo de liberdade, de abolição da escravatura e de democracia sob o sistema republicano. Se tivesse que acontecer, a hora era aquela, a hora da vitória, do júbilo, da afirmação. Neto é simpático à idéia, mas resiste diante de uma provável reprovação de seus pares. Pensa que tal proclamação de uma nova República deveria partir de Bento Gonçalves, o grande comandante de todos os farrapos. Contraporam que Bento já se decidira pela República e que hierarquia rígida era coisa do Império. O sistema republicano centra-se no povo, suas vontades e necessidades, e não na elite governativa.

Finalmente, aquiescendo o Coronel Neto, passaram a escrever a Proclamação da República Rio-Grandense que seria lida e efetivada por ele, perante a tropa perfilada, em 11 de Setembro de 1836.

A mudança de posicionamento dos Farrapos foi imediata. Já não desejavam mais substituir o Presidente da Província de São Pedro do Rio Grande por outro, pois agora haveriam de ter um Presidente da República independente. Os combatentes não era mais revoltosos farroupilhas, mas soldados do Exército Republicano Rio-Grandense. O pavilhão que defendiam não era mais a bandeira imperial verde-amarela, mas a quadrada bandeira republicana verde, vermelha e amarela em diagonal (sem o brasão no meio). Não lutavam mais por reconhecimento e atenção, mas pela defesa da independência e soberania de seu país. Já não era mais a luta de revoltosos em busca de justiça, mais uma guerra de exército defensor (republicano) contra exército agressor (imperial).

A concorrida eleição para Presidente da República foi vencida por Bento Gonçalves da Silva (mesmo sem estar presente sessão extraordinária e sem campanha) e primeiro vice-presidente José Gomes de Vasconcelos Jardim. Assume o vice interinamente a presidência com a incumbência de convocar uma Assembléia Constituinte para formar a Constituição da República Rio-grandense.

A maior revolução civil

A Guerra dos Farrapos foi a maior revolução civil já vista no continente americano. Não houve um tratado de paz pelo simples motivo de que a república do Brasil nunca considerou o estado do Rio Grande como autônomo. O que aconteceu foi uma ata assinada em 25 de fevereiro de 1845 pelos generais, coronéis e majores farroupilhas que se reuniram em Ponche Verde para analisar as condições para pacificação.

Três dias após, dia 28, o chefe do exército, David Canabarro, foi autorizado a divulgar o fim da guerra civil mais longa da história das américas.

RESUMINDO

O que foi:

– Também conhecida como Revolução Farroupilha, A Guerra dos Farrapos foi um conflito regional contrário ao governo imperial brasileiro e com caráter republicano. Ocorreu na província de São Pedro do Rio Grande do Sul, entre 20 de setembro de 1835 a 1 de março de 1845.

Causas:

– Descontentamento político com o governo imperial brasileiro;

– Busca por parte dos liberais por maior autonomia para as províncias;

– Revolta com os altos impostos cobrados no comércio de couro e charque, importantes produtos da economia do Rio Grande do Sul naquela época;

– Os farroupilhas eram contários a entrada (concorrência) do charque e couro de outros países, com preços baratos, que dificultada o comércio destes produtos por parte dos comerciantes sulistas.

Os desdobramentos do conflito

– Em setembro de 1835, os revolucionários, comandados por Bento Gonçalves, tomaram a cidade de Porto Alegre, forçando a retirada das tropas imperiais da região.

– Prisão do líder Bento Gonçalves em 1835. A lidernça do movimento passa para as mãos de Antônio de Souza Neto.

– Em 1836, os farroupilhas obtem várias vitórias diante das forças imperiais.- Em 11 de setembro de 1836 é proclamada, pelos revoltosos, a República Rio-Grandense. Mesmo na prisão, os farroupilhas declaram Bento Gonçalves presidente.

– No ano de 1837, após fugir da prisão, Bento Gonçalves assume de fato a presidência da recém-criada República Rio-Grandense.

– Em 24 de julho de 1839, os farroupilhas proclamam a República Juliana, na região do atual estado de Santa Catarina.

O fim do movimento

– Em 1842, o governo imperial nomeou Duque de Caxias (Luiz Alves de Lima e Silva) para comandar uma ação com objetivo de finalizar o conflito separatista no sul do Brasil.

– Em 1845, após vários conflitos militares, enfraquecidos, os farroupilhas aceitaram o acordo proposto por Duque de Caxias e a Guerra dos Farrapos terminou.  A República Rio-Grandense foi reintegrada ao Império brasileiro.
Fontes: Biblioteca Pública de Porto Alegre e Universitário