fbiEm palestra, David Brassanini, do FBI, contou que seus dados num sistema do governo americano foram hackeados.

Há risco de que forças estrangeiras que interferiram em eleições americanas o façam também em outros países, inclusive no Brasil. Essa é a avaliação de David Brassanini, adido do Federal Bureau of Investigation (FBI) para o Brasil.

“O modo [de operar] deles é extremamente bruto, ilegal e perfeito. Eles conseguem”, disse nesta quarta-feira (12/9) o americano, que comanda o trabalho internacional do FBI nas Américas e no Brasil, no Seminário Internacional Gestão do Estado e Políticas Públicas: Desafios para o Controle da Corrupção. O evento é organizado pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, em São Paulo.

Para Brassanini, a interferência externa nas eleições americanas ficou comprovada pelo FBI. Ele avalia que nas eleições que acontecerão em novembro, o cenário deve se repetir. “Estamos carecas de saber que estão invadindo e interferindo nas nossas eleições”, apontou.

As leis que tratam do assunto, afirma, precisam ser melhor administradas e fortalecidas. “A lei do Brasil ainda é mais recente. A nossa lei é mais velha e ainda não conseguimos passar uma mais forte”, criticou, ao se referir a projetos que tramitam no Congresso americano como o Secure Elections Act, no Senado, e o PAPER Act, na Câmara.

Uma das iniciativas internacionais do FBI para tratar do assunto foi a criação de uma força-tarefa internacional sobre a interferência estrangeira em eleições. “É um tópico sensível. A nossa preocupação é de que existe essa interferência estrangeira, especialmente dos russos. É uma realidade e que tem de ser enfrentada”, destacou.

Segundo ele, o Brasil foi convidado em 2017 como um dos primeiros membros internacionais a fazer parte do grupo, juntamente com a Índia. Em março, o FBI apresentou ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) suas experiências ao lidar com o tema.

Na ocasião, os policiais estrangeiros basicamente detalharam as leis que usam para enquadrar as situações de influência externa. Eles foram categóricos ao afirmar que não é papel do governo coibir a circulação de notícias falsas.

Cyber crime

Brassanini avaliou que essas ameaças acontecem justamente pela internet e os hackers utilizam os dados pessoais que circulam na rede para focalizar a maneira como influenciarão os cidadãos.

Ele destacou que terroristas e organizações criminosas encontraram na Darknet – também conhecida como Deep Web – uma forma de arrecadar recursos e planejar suas estratégias. “Terroristas usavam a forma típica de carregar uma bomba consigo para se explodir ou deixar uma mala. Essa prática é do passado. Eles acharão outras formas”, avaliou. “Essas formas se encontram na área cibernética”.

O adido do FBI citou um estudo com 657 empresas, feito pelo BSI (Instituto de Continuidade de Negócios), que listou as 10 maiores ameaças em 77 países. Em primeiro lugar, estão os ataques cibernéticos, seguidos pelo vazamento de dados.

“Os meus dados pessoais, de minha esposa e filhos, foram hackeados dentro do sistema do governo americano junto com milhares de companheiros de trabalho. Se o governo americano foi hackeado sob uma proteção violenta, quem dirá os dados de um banco”, destacou.

Por isso, Brassanini alertou que tais ameaças são reais e o enfrentamento a essa criminalidade que se protege pela Darknet é muito complicada, uma vez que a rede é composta por camadas. Assim, uma vez que investigadores descobrem um criminoso em uma dessas camadas, ele foge para outra. “Simplesmente não há como rastrear ou vigiar tudo”, disse.

Ao analisar o tema, o FBI observou que as maiores perdas se concentram, por ora, no patrimônio de empresas privadas, especialmente das gigantes do setor de tecnologia. Para lidar com isso, a agência se aproximou das companhias para se juntar à força-tarefa. “Nos últimos dois anos, eles trabalharam juntamente conosco para eliminar essas ameaças”, afirmou.

Brassanini reforçou a necessidade de leis específicas para lidar com a criminalidade cibernética. “A economia precisa continuar crescendo. Mas, ao crescer, terá de investir mais capital para se assegurar dessas ameaças. O setor privado, bem logo, vai requerer que os políticos desenhem armas para combater essas ameaças cibernéticas”, avaliou.

“Por ora, as leis no Brasil, EUA e várias partes do mundo não são suficientes. Precisam ser reforçadas e ser específicas. Terroristas e organizações criminosas usarão mais e mais o setor cibernético para influenciar não só a politica mas a economia”, concluiu.
Fonte: Jota